Estudo debate a necessidade de se ter ferramenta que cheque os fatos tão rapidamente quanto a desinformação se espalha

Jornalismo de Prompt – Como nos relacionamos com a inteligência artificial (IA) ao buscar informações confiáveis? Essa é a pergunta que norteia a pesquisa desenvolvida por Gustavo Medrado, mestrando no Programa de Pós-Graduação em Tecnologias, Comunicação e Educação (PPGCE) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). O estudo analisa o potencial de integração entre o jornalismo e as plataformas de IA generativa, propondo o conceito de “Jornalismo de Prompt” como prática emergente na área da comunicação.

A pesquisa parte da premissa de que, assim como a desinformação se espalha rapidamente, também é necessário que qualquer pessoa com acesso à internet possa verificar os fatos com a mesma agilidade. Para isso, Medrado investiga o uso estratégico de “prompts” — comandos específicos dados à IA — como ferramenta para obter respostas mais precisas e contextualizadas.

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No foco do trabalho está a análise dos Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLMs), como o GPT-4o, base do ChatGPT. Esses modelos são alimentados por grandes volumes de dados, incluindo textos, imagens, sons e outros elementos disponíveis na internet. O objetivo de Medrado é verificar se essas plataformas podem ser utilizadas com segurança no processo de checagem jornalística.

Em testes comparativos, os resultados da IA foram analisados com base nas verificações da agência de checagem “Aos Fatos”. Segundo o pesquisador, cerca de 90% das 1.200 respostas geradas apresentaram alta similaridade com os conteúdos da agência.

Apesar do bom desempenho, Medrado destaca que essa precisão pode estar diretamente relacionada à existência prévia de trabalhos jornalísticos já disponíveis online. Assim, surge um novo questionamento: até que ponto a IA depende da produção jornalística anterior para oferecer informações confiáveis?

A pesquisa também se conecta com temas como educação midiática e ética na tecnologia, ao propor a criação de um modelo descentralizado de verificação de informações. A ideia, chamada por Medrado de “blockchain humanizada”, envolve a construção de um ecossistema jornalístico que remunere os profissionais e valorize a confiabilidade do conteúdo, além de permitir o treinamento de LLMs voltadas para a produção de informações qualificadas.

O trabalho foi reconhecido com o Prêmio Intercom de Comunicação para a Transformação Social, concedido durante o 28º Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste (Intercom Sudeste 2025), realizado em Campinas. A premiação valoriza iniciativas de pesquisa, ensino ou extensão com impacto social comprovado ou com forte potencial transformador.

Emocionado com o reconhecimento, Medrado dedicou o prêmio às vítimas da desinformação durante a pandemia de covid-19, incluindo familiares e amigos que perdeu nesse período.

A pesquisa tem orientação do professor Marcelo Marques Araújo, do PPGCE. Também contou com colaboração do professor Pedro Franklin, na especialização em Ciência de Dados Aplicada da UFU, e com a co-orientação do professor Alexandre Siqueira, da Universidade da Flórida.

(Com informações de Portal Comunica UFU)
(Foto: Reprodução/Freepik/DC Studio)