Consumo elevado de recursos naturais por megaestruturas levanta alertas sobre impactos em áreas com infraestrutura limitada

Data centers – A OpenAI e a Oracle divulgaram, na terça-feira (22), planos para expandir em 4,5 GW a capacidade do projeto Stargate, que poderá atingir 10 GW voltados a data centers para inteligência artificial, com investimentos previstos de até US$ 500 bilhões (R$ 2,78 trilhões na cotação atual). A proposta visa manter os Estados Unidos na vanguarda global da IA.

Essa ampliação inclui a construção de novas instalações para abrigar o robusto aparato, que já é massivo. Com isso, cresce a preocupação sobre a quantidade de centros de dados que deverão ser erguidos nos próximos anos — e os impactos dessa infraestrutura sobre os locais escolhidos.

LEIA: Uso de biometria passa a ser exigido para acessar benefícios sociais

Quais problemas os data centers podem causar nas cidades?

Embora prometam gerar empregos e estimular a economia local, os grandes centros de dados de inteligência artificial podem representar desafios consideráveis, especialmente em regiões com infraestrutura precária, como mostra o Intercept Brasil em análise recente sobre empreendimentos previstos no país.

Um dos casos abordados é o do data center do TikTok em Caucaia (CE), município historicamente afetado por secas. A estimativa é que o complexo consuma, diariamente, a mesma quantidade de energia usada por 2,2 milhões de pessoas. A estrutura também deverá demandar grande volume de água para resfriamento, o que pode intensificar a crise hídrica na região.

Outro projeto destacado está localizado em Eldorado do Sul (RS), uma das cidades mais atingidas pelas enchentes de 2024. Batizada de “AI City”, a iniciativa da Scala Data Center tem aporte inicial de R$ 3 bilhões e capacidade de 54 MW, podendo alcançar 4.750 MW, o equivalente ao consumo energético do estado do Rio de Janeiro.

Agricultores da região temem prejuízos, diante da incerteza sobre a origem da água que será usada no resfriamento dos equipamentos. Além disso, comunidades indígenas vizinhas, vivendo em condições vulneráveis, afirmam que não foram consultadas sobre o projeto.

Ainda segundo a reportagem, moradores de ambas as regiões reclamam da falta de diálogo com a população e da ausência de estudos robustos sobre impactos ambientais. Também criticam a velocidade com que as autorizações têm sido concedidas, sem contrapartidas claras para os habitantes locais.

Como tais estruturas demandam grande volume de energia, sua operação exige autorização especial do governo federal. Pelo menos sete dos 21 pedidos recebidos pelo Ministério de Minas e Energia (MME) em 2023 tinham como objetivo viabilizar data centers, aponta o Intercept.

Onde é mais adequado instalar um data center?

A localização de um data center interfere diretamente em sua eficiência, custo operacional e impacto ambiental. Por isso, a decisão envolve a análise de diversos fatores, como explica o site Data Center Knowledge. Entre os critérios estão: latência, riscos de desastres naturais, infraestrutura de conectividade e acesso à energia sustentável.

Um dos elementos decisivos é a proximidade de redes de fibra óptica e centros de telecomunicação – o que pode ter pesado na escolha de Caucaia, próxima a cabos submarinos. Climas frios também são vantajosos, pois reduzem a necessidade de sistemas de resfriamento. Já o acesso a fontes renováveis de energia contribui para mitigar danos ambientais.

Em geral, as companhias optam por instalar data centers em locais mais afastados de áreas urbanas, visando a possibilidade de expansão. No entanto, o site Smart Cities Dive argumenta que locais populosos também podem oferecer benefícios.

Nessas regiões, é possível usar de maneira estratégica espaços subterrâneos já construídos, evitar desmatamentos e aproveitar o calor gerado pelos servidores para aquecer ambientes residenciais próximos – reduzindo assim o custo e aumentando a eficiência do uso energético.

(Com informações TecMundo)
(Foto: Reprodução/Freepik/wavebreakmedia_micro)