Jornal alerta como publicações passaram a ser tratadas como risco corporativo e podem levar até a demissão
Comportamento online – O que funcionários publicam nas redes sociais, mesmo fora do expediente, passou a ser motivo de atenção redobrada para empresas nos Estados Unidos. Uma reportagem do Washington Post revela que companhias vêm revisando regras internas e intensificando o monitoramento do comportamento online de seus colaboradores, diante do temor de danos à reputação, boicotes e pressões políticas.
Segundo o jornal, esse movimento ganhou força após a repercussão de postagens relacionadas à morte do influenciador Charlie Kirk, assassinado em setembro. A reação pública a esses conteúdos funcionou como um alerta para o meio corporativo. O que antes era encarado como opinião pessoal passou a ser visto como um risco direto à marca, ao negócio e até o clima interno das organizações.
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Um dos casos citados na reportagem ilustra essa mudança de postura. Chase Thieme, de 37 anos, publicou no LinkedIn um texto genérico sobre “sinais de um mau chefe”, sem mencionar empresas ou pessoas específicas. Pouco tempo depois, foi demitido. De acordo com ele, o gestor fez referência direta à postagem durante a conversa que resultou na dispensa, apesar de o conteúdo ter sido publicado em um perfil pessoal e fora do horário de trabalho.
O episódio expõe o que especialistas descrevem como limites cada vez mais difusos entre expressão individual e consequências profissionais. Fontes ouvidas pelo Washington Post afirmam que empresas passaram a tratar postagens sobre temas sociais e políticos como potenciais gatilhos de crise, sobretudo quando ganham alcance e começam a circular além do controle de quem publicou.
Após o caso Charlie Kirk, esse receio se intensificou. A reportagem lembra que, em novembro, a Reuters contabilizou ao menos 600 trabalhadores investigados, punidos ou demitidos por postagens relacionadas ao assassinato. Entre eles estavam professores, funcionários de companhias aéreas, redes varejistas e empresas de tecnologia. Algumas mensagens exaltavam violência; outras apenas comentavam o episódio. Ainda assim, todas acabaram sob escrutínio corporativo.
Diante desse cenário, executivos de recursos humanos adotaram uma postura mais preventiva. Para muitos, a ideia de “rede social privada” praticamente deixou de existir. Conteúdos publicados em contas pessoais podem viralizar, ser associados à empresa e gerar pressão externa. Como resposta, cresceu o monitoramento e a revisão de códigos de conduta e manuais internos.
Do ponto de vista legal, porém, funcionários do setor privado têm pouca proteção quando o assunto é liberdade de expressão. Especialistas explicam ao Washington Post que a maioria desses trabalhadores é contratada sob o regime conhecido como “at will”, que permite demissões com ou sem justificativa formal. Nesse contexto, a Primeira Emenda da Constituição americana tende a oferecer mais respaldo aos empregadores do que aos empregados.
Advogados alertam, no entanto, que políticas internas excessivamente vagas ou amplas podem gerar conflitos. Quanto mais rígidas e detalhadas são as regras sobre comportamento online, maior a chance de questionamentos. As empresas tentam equilibrar a proteção da marca com o risco de parecerem censoras ou arbitrárias, o que pode afetar o clima interno e até a atração de talentos.
No setor público, a situação muda parcialmente. Servidores e professores costumam ter mais garantias ao se manifestarem sobre temas de interesse público, desde que isso não interfira diretamente no trabalho. A reportagem menciona ações judiciais movidas por docentes e funcionários públicos punidos por comentários sobre o caso Charlie Kirk, algumas com decisões favoráveis e até reintegração ao cargo.
Mesmo assim, o cenário permanece incerto. A legislação trabalhista protege discussões sobre salários, benefícios e condições de trabalho, mas muitos empregadores ignoram ou desconhecem esse limite. No fim, como resumem especialistas ouvidos pelo jornal, empresas tentam evitar se transformar em um “Big Brother” digital, mas sabem que, na internet, qualquer postagem pode fugir do controle e, em poucos minutos, se tornar um problema coletivo.
(Com informações de Olhar Digital)
(Foto: Reprodução/Freepik)