Funcionários que compartilham o dia a dia no trabalho ganham destaque online, mas falta de regras claras e deslizes na exposição já resultaram em demissões

Influencers CLT – Mostrar a rotina de trabalho nas redes sociais virou prática comum entre os chamados “influencers CLT”. Esse movimento já deu visibilidade e até renda extra para muitos trabalhadores, mas também tem gerado incômodo dentro das empresas e, em alguns casos, terminou em desligamentos.

O motivo? Falta de alinhamento entre o que o colaborador publica e a imagem que a companhia deseja passar. Especialistas alertam que, embora não exista proibição legal para que funcionários conciliem o emprego com a criação de conteúdo, há limites importantes a respeitar.

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O que não pode ser publicado

Segundo Carolina Dostal, diretora regional da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-SP), alguns pontos devem ser regra para quem compartilha o dia a dia de trabalho.

• Não divulgar informações confidenciais da empresa;
• Evitar postar telas de computador, reuniões estratégicas ou lançamentos;
• Preservar colegas, clientes e gestores, sem expor conversas ou fofocas;
• Evitar polêmicas, erros de português e fake news;
• Nunca falar mal do empregador em público.

A advogada trabalhista Juliane Facó complementa. “O que não pode é comprometer a atividade principal, nem gerar concorrência ou danos à imagem da empresa.”

Casos reais

A psicóloga Thamiris Castro, de 30 anos, viralizou ao mostrar curiosidades da sua rotina em presídios no Rio de Janeiro. Um ano depois, acabou demitida. Ela acredita que o uso das redes influenciou na decisão. “Nunca recebi advertência. Se fosse um problema, poderiam ter me dado a chance de ajustar o conteúdo. Faltou diálogo.”

Já a influenciadora e profissional de marketing Geovanna Pedroso, 23, conciliava o trabalho em agências com a produção de vídeos sobre moda e comportamento. Apesar de nunca expor sua empresa, sofreu represálias e foi desligada em um corte de pessoal. Desde então, vive apenas da internet, mas com instabilidade.

O jovem Yuri Santos, 23, ex-assistente de social media, também enfrentou a demissão. Mas, no seu caso, a visibilidade trouxe novas oportunidades, inclusive em outra empresa. “Existe um antes e depois. Aprendi a gostar de aparecer e de produzir conteúdo”, conta.

Empresas ainda não sabem como lidar

Para Leandro Oliveira, diretor da Humand no Brasil, muitas companhias perdem oportunidades ao ver os “influencers CLT” apenas como risco. “Se o colaborador já tem presença digital forte, por que não unir forças e transformar isso em parte do trabalho?”, questiona.

O comunicador Dado Schneider concorda e aponta um problema cultural: “A maior parte das demissões acontece por inveja ou ciúme profissional. Alguns passam dos limites, mas a maioria mais ajuda do que atrapalha.”

Já a especialista em saúde emocional corporativa, Jéssica Palin Martins, lembra que, no fim das contas, trata-se apenas de uma forma de renda extra. “Se não atrapalha a entrega de resultados, não deveria ser problema. É como vender trufas ou trabalhar como garçom à noite.”

Especialistas defendem que as empresas criem regras claras, ofereçam treinamento e até aproveitem o potencial desses funcionários. “O ideal é reconhecer o esforço como parte da cultura da organização e remunerá-lo”, afirma Oliveira.

(Com informações de g1)
(Foto: Reprodução/Freepik/diana.grytsku)