Renata Guilherme alerta que o desafio é garantir que a inovação tecnológica seja inclusiva, e não mais uma ferramenta de exclusão

Opinião – A tecnologia avança como motor de transformação social e inclusão. Ferramentas como inteligência artificial, automação e economia digital têm potencial para eliminar barreiras e ampliar oportunidades. No entanto, quando o assunto é igualdade de gênero, a promessa ainda está longe de ser cumprida.

Dados recentes mostram que a situação das mulheres no STEM (sigla em inglês que designa as áreas de conhecimento de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática) no Brasil continua desafiadora.

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Em 2023, apenas 27% das que ingressaram em cursos de ciência, tecnologia, engenharia e matemática concluíram a formação, segundo levantamento da Agência Brasil.

No mercado de trabalho, a participação feminina em empregos na área de Tecnologia da Informação e Comunicação gira em torno de 39%, de acordo com a Brasscom. Outro estudo do Instituto Eldorado aponta que as mulheres representam apenas 32,5% da força de trabalho em TI e recebem salários, em média, 15,6% menores do que os dos homens.
Pesquisas acadêmicas de 2025 indicam que estereótipos de gênero, comentários inadequados, isolamento e baixa representatividade minam a confiança de alunas e profissionais. Esses fatores aumentam as taxas de desistência e reduzem as chances de protagonismo.

Por outro lado, há sinais de mudança. O Women Rock IT Brasil 2025, da Cisco, oferece cursos gratuitos como CCNA e Python para mulheres. O STEM Women Congress, realizado no Insper, reuniu líderes para discutir estratégias de inclusão. O programa Trilha para ELAS em Inteligência Artificial, do Instituto Eldorado, oferece 80 horas de capacitação online gratuita. Já a 5ª edição do 25 Mulheres na Ciência, da 3M América Latina, premiou dez estudantes brasileiras por projetos de destaque. Apesar dos avanços, persistem riscos de perpetuar desigualdades.

Vieses de gênero, por exemplo, já aparecem em assistentes de voz, muitas vezes configurados com vozes femininas e respostas submissas. Esses padrões reforçam estereótipos e mostram que a tecnologia também pode reproduzir problemas históricos.

O desafio é garantir que a inovação seja inclusiva. Isso exige ações concretas de empresas, governos e sociedade para ampliar a representatividade, reduzir desigualdades salariais e criar ambientes de trabalho mais equitativos. Só assim será possível transformar o potencial tecnológico em um aliado real da igualdade de gênero.

Por Renata Guilherme, diretora de customer experience na Actionline.

*Texto publicado originalmente na Folha de S. Paulo

(Foto: Reprodução/Freepik)