Descoberta inédita revela que pequeno corpo do Sistema Solar possui três anéis em plena evolução
Asteroide – Uma equipe internacional de astrônomos, liderada por pesquisadores brasileiros, observou pela primeira vez o processo de evolução de um sistema de anéis ao redor de um pequeno corpo do Sistema Solar. O estudo, publicado na revista The Astrophysical Journal Letters, revela que o asteroide centauro (2060) Chiron abriga um sistema complexo formado por três anéis distintos inseridos em um amplo disco de material.
As observações mostram que as estruturas em torno de Chiron mudaram significativamente ao longo dos últimos anos, o que indica que os anéis estão em formação recente.
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“Estamos vendo o resultado de um evento recente. O material ejetado por Chiron parece estar gradualmente se assentando no plano equatorial do objeto, sendo moldado por ressonâncias gravitacionais e colisões, formando os anéis que vemos hoje”, explicam os autores.
O estudo foi liderado por Chrystian Luciano Pereira, pesquisador de pós-doutorado no Observatório Nacional (MCTI/ON), com apoio da FAPERJ, e contou com colaboração de dezenas de cientistas e observatórios de sete países. Entre os dados mais importantes estão os obtidos pelo telescópio de 1,6 metros do Observatório do Pico dos Dias, em Minas Gerais, operado pelo Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA/MCTI).
Antigo candidato confirmado
Chiron, um objeto centauro com cerca de 200 km de diâmetro que orbita entre Saturno e Urano, já era considerado um forte candidato a possuir anéis. Embora classificado como asteroide, o corpo apresenta comportamento semelhante ao de um cometa, expelindo material de seu núcleo periodicamente. Desde a década de 1990, diferentes estudos apontavam indícios de estruturas ao redor de Chiron, mas sem consenso.
Somente com as novas observações realizadas durante uma ocultação estelar em 10 de setembro de 2023, fenômeno em que um corpo celeste passa em frente a uma estrela e bloqueia parte de sua luz, foi possível confirmar a existência dos anéis. “Quando Chiron passou em frente a uma estrela distante, a luz dela foi atenuada não apenas pelo corpo principal, mas também por múltiplas estruturas ao seu redor. Conseguimos mapear esse sistema com um detalhe sem precedentes”, explicou Pereira.
Sistema em transformação
A análise detalhada revelou três anéis densos, nomeados Chi1R, Chi2R e Chi3R, localizados a 273 km, 325 km e 438 km do centro de Chiron, além de um disco difuso e uma estrutura tênue a cerca de 1.400 km. Comparações com observações anteriores indicam que o disco mais externo se formou na última década, possivelmente após uma grande ejeção de material em 2021.
Os cientistas acreditam que o sistema de Chiron está em plena evolução, oferecendo uma rara oportunidade de observar uma etapa intermediária da formação de anéis em pequenos corpos do Sistema Solar.
Técnica e colaboração internacional
As descobertas foram possíveis graças à técnica da ocultação estelar, que permite detectar pequenas variações no brilho de estrelas quando objetos passam diante delas. No caso de Chiron, a campanha de observação foi coordenada por Felipe Ribas, professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), e envolveu 31 locais de observação na América do Sul.
O estudo faz parte do projeto “Lucky Star”, liderado por Bruno Sicardy, do Observatório de Paris, e contou com participação de pesquisadores de instituições como o Observatório Nacional, o LIneA, a UTFPR, a UFRJ e a UNESP.
Com a confirmação de seus anéis, Chiron se junta a Chariklo, Haumea e Quaoar como o quarto pequeno corpo conhecido do Sistema Solar a apresentar essas estruturas, um passo importante para compreender como sistemas de anéis se formam e evoluem em diferentes contextos.
(Com informações de Olhar Digital)
(Foto: Reprodução/Freepik)