Tarifas de Trump devem encolher PIB dos EUA em 0,5 ponto percentual

Tarifas de Trump – As famílias norte-americanas terão uma redução média de US$ 3.800 (aproximadamente R$ 21.900) em suas finanças este ano devido ao pacote tarifário anunciado por Donald Trump no dia 2 de abril – data que o presidente dos EUA denominou como “Dia da Libertação”. Esse montante representa mais de 50% da renda mensal média de um lar no país.

O prejuízo será causado por um incremento médio de 2,3% nos preços de produtos taxados e de outros itens ligados à cadeia produtiva nacional. As novas tarifas, especialmente aquelas sobre nações como Vietnã, Bangladesh e Tailândia, atingem principalmente o setor têxtil, que pode ter alta de 17% nos preços devido às taxas.

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Os dados são do Budget Lab, da Universidade Yale, e têm sido reconhecidos por especialistas como uma das análises mais robustas até o momento. A instituição projeta que o PIB dos EUA recuará 0,5 ponto percentual em 2025 apenas por conta das tarifas de abril. Somando todas as medidas implementadas desde o início do governo Trump, a retração pode alcançar 0,9 ponto.

Em um cenário de longo prazo, a manutenção dessas barreiras comerciais manterá o PIB norte-americano 0,6 ponto abaixo do patamar pré-tarifas, resultando em uma perda de US$ 180 bilhões (R$ 1,03 trilhão) só em 2025.

O anúncio de abril elevou a tarifa média efetiva dos EUA em 11,5 pontos percentuais. Com todas as medidas já implementadas, a taxa média saltou para 22,5%, o nível mais alto desde 1909.

Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, a data deveria ser chamada de “dia do empobrecimento” dos EUA. “O termo ‘Dia da Libertação’ é inadequado para uma medida que prende a população a custos mais altos”, critica.

“Existe uma incompreensão não só econômica, mas também geopolítica, no círculo de Trump, que confunde o desejo de reindustrialização com práticas tarifárias obsoletas. Isso vai degradar a qualidade da indústria nacional, já que insumos ficarão mais caros e as exportações serão prejudicadas”, explica Vale.

Em relatório recente, o IIF (Instituto de Finanças Internacionais), que representa mais de 400 bancos globais, destacou que o foco das tarifas recai sobre setores estratégicos.

“Produtos críticos para a segurança nacional, como semicondutores, cobre refinado e medicamentos selecionados, agora terão taxas de 10% a 25%. O objetivo é reestruturar cadeias de suprimentos, incentivando a produção doméstica em vez de gerar receita no curto prazo”, afirma o IIF.

A entidade avalia que a gestão Trump estruturou as mudanças para consolidar uma política comercial permanente. “Haverá revisões, mas o custo para acessar o mercado dos EUA mudou de forma definitiva”, ressalta o relatório.

Segundo Armando Castelar, pesquisador da FGV, declarações recentes de autoridades norte-americanas revelam dois eixos da estratégia:

1. Mudança de prioridade: o foco saiu do consumidor e migrou para o trabalhador industrial, com a promessa de mais empregos para a classe média, o que supostamente compensaria a inflação. Castelar vê riscos, já que automação e IA tendem a dominar o mercado de trabalho.
2. Compensação fiscal: isenções para quem ganha até US$ 150 mil anuais (R$ 860 mil; 85% dos americanos) colocando mais dinheiro em circulação e compensando as perdas na arrecadação com cerca de US$ 1 trilhão ao ano (R$ 5,75 trilhões) com receitas das tarifas.

Há ainda a proposta de reduzir gastos públicos e flexibilizar regras ambientais e financeiras para estimular a economia. “Trump pode avançar na desregulamentação, mas cortes orçamentários têm sido barrados judicialmente. No fim, a inflação subirá e o PIB cairá, criando um cenário de estagflação”, prevê Castelar.

O saldo final das tarifas ainda é imprevisível, especialmente após retaliações como a da China, que impôs taxas de 34% sobre produtos dos EUA na última sexta-feira (4).

Além disso, as medidas têm pressionado o mercado de ações. Como muitas famílias norte-americanas investem na Bolsa, a desvalorização de ações também reduz sua renda.

Nos últimos dez anos, o déficit comercial dos EUA com o mundo e a China manteve-se estável em proporção ao PIB. No comércio de bens, o déficit oscila em torno de 4% do PIB; incluindo serviços, fica entre 2,5% e 3,5%.

O cerne do problema é que o déficit reflete a necessidade dos EUA de importar mais do que exportam para sustentar sua economia. Com as tarifas, esse custo será ainda maior.

Para José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central, “a reindustrialização via tarifas é inviável”. “A migração de empregos para o setor de serviços é natural em economias desenvolvidas”, argumenta.

Ele acredita que a equipe de Trump demorará a perceber o equívoco da estratégia, enquanto concorrentes como a China ganharão espaço.

(Com informações de Folha de S.Paulo)
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