Uso crescente do termo nas redes sociais levanta debate sobre a banalização de conceitos clínicos ligados a transtornos como TDAH e autismo
Hiperfoco – O termo “hiperfoco” tem circulado amplamente nas redes sociais, especialmente no TikTok e no X (antigo Twitter). Apesar de ser frequentemente utilizado para descrever um “pico de interesse” em determinado assunto, o conceito original não tem relação com “obsessão” nem se resume a “gostar muito” de algo. Na verdade, trata-se de um fenômeno clínico associado a transtornos como o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) e o TEA (Transtorno do Espectro Autista).
Em linhas gerais, o hiperfoco descreve um estado de absorção completa em uma tarefa, no qual a pessoa parece “desligar-se” do mundo ao redor. Essa condição está ligada a dificuldades em alternar a atenção entre diferentes atividades e pode se manifestar como uma espécie de “estado hipnótico”.
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Embora a maioria das pessoas neurotípicas possa relatar ter vivenciado algo semelhante, o hiperfoco é mais frequentemente observado em indivíduos com TDAH, TEA ou esquizofrenia. Nessas situações, a dificuldade em mudar o foco pode causar prejuízos na rotina: compromissos esquecidos, refeições puladas ou tarefas domésticas negligenciadas são exemplos comuns.
Pesquisas sugerem que o hiperfoco pode estar relacionado a níveis baixos de dopamina nos lobos frontais do cérebro, substância responsável por regular a motivação e a capacidade de alternar entre tarefas.
Entre o clínico e a piada
Nas redes sociais, termos da área da saúde mental têm sido cada vez mais apropriados em contextos cômicos ou banais. O uso de expressões como “hiperfoco”, “narcisismo”, “TOC” e “ficar não verbal” muitas vezes desvia de seu significado original, reduzindo vivências reais a memes e piadas.
O mesmo acontece com os “pensamentos intrusivos”, frequentemente usados para descrever vontades passageiras como pintar o cabelo ou gritar em público, quando, na verdade, referem-se a ideias indesejadas e angustiantes que causam sofrimento em pessoas com Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC).
De maneira semelhante, o meme “não verbal” viralizou para representar momentos de cansaço social, o que distorce e banaliza a realidade de indivíduos autistas que realmente enfrentam períodos de perda ou ausência de fala.
Cuidado com os termos
Especialistas alertam que a popularização de jargões clínicos fora de contexto pode estigmatizar experiências reais e desinformar o público. Ao transformar termos técnicos em gírias, o discurso nas redes sociais acaba minimizando condições sérias e suas consequências.
Por isso, antes de adotar um novo termo da moda, é fundamental compreender seu significado e refletir sobre o impacto que seu uso pode ter. Como lembra o debate em torno do hiperfoco, o que se diz, e como se diz, importa, especialmente quando o assunto é saúde mental.
(Com informações de Olhar Digital)
(Foto: Reprodução/Freepik/amenic181)