Nascido na Holanda, movimento já presente em diversos países propõe pausas nas redes sociais e experiências coletivas sem celulares

Experiências sem celulares – Quase metade dos jovens gostaria de viver em um mundo sem internet. É o que aponta uma pesquisa britânica citada em uma reportagem sobre o Offline Club, uma iniciativa que tem ganhado força ao propor justamente o contrário do que se vê no cotidiano hiperconectado: convívio presencial e experiências sem telas.

Criado há cerca de um ano pelos holandeses Jordy, Ilya e Valentijn, o projeto organiza eventos em que os participantes devem deixar de lado smartphones e laptops. Nas palavras dos próprios fundadores, é “estranho” manter uma conta ativa no Instagram — rede em que o grupo soma quase 530 mil seguidores —, já que o objetivo é justamente “trazer de volta humanidade à sociedade, atualmente isolada e fixada na tela”.

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Durante os encontros, os participantes leem, jogam, fazem trabalhos manuais ou simplesmente relaxam, retomando hábitos comuns a um tempo anterior à popularização dos celulares. Em uma das postagens, o clube questiona: “Você está pronto para abandonar seu telefone?”, e a resposta parece ser sim. Cada vez mais pessoas aderem à proposta, dispostas a desconectar por horas ou até dias.

A ideia, que nasceu na Holanda, rapidamente se espalhou para outros países em cidades como Londres, Paris, Milão e Copenhague. Na Alemanha, os primeiros encontros já começaram, e iniciativas semelhantes em restaurantes e clubes, onde os convidados são incentivados a deixar o celular em casa, estão se multiplicando.

Conectados, mas insatisfeitos

Segundo a associação alemã Bitkom, jovens entre 16 e 29 anos são os que mais usam smartphones: passam, em média, mais de três horas por dia conectados. No entanto, essa hiperconectividade parece não trazer satisfação.

Uma pesquisa da British Standards Institution, feita com 1.293 jovens entre 16 e 21 anos, revela que quase 70% se sentem mal após passarem tempo online. Além disso, metade defende a ideia de um “toque de recolher digital” após as 22h, e 46% afirmam que prefeririam viver em um mundo sem internet.

Os dados dialogam com outras pesquisas, como a do instituto Harris Polls, nos Estados Unidos, em que muitos jovens disseram desejar que plataformas como TikTok, Instagram ou X (ex-Twitter) nunca tivessem sido inventadas.

Respostas políticas e impactos na saúde mental

As preocupações com o uso excessivo de telas também começam a chegar à esfera política. O ministro da Tecnologia do Reino Unido, Peter Kyle, mencionou ao jornal The Guardian a possibilidade de toques de recolher obrigatórios. Noruega e Austrália já tomaram medidas: aumentaram a idade mínima para uso de redes sociais, de 13 para 15 e 16 anos, respectivamente. Brasil e Dinamarca adotaram restrições em ambientes escolares, banindo smartphones e tablets de pátios escolares.

Diversos estudos apontam os impactos do uso excessivo de smartphones na saúde mental, incluindo casos de depressão, ansiedade, insônia, estresse e dependência. Um levantamento publicado na revista BMC Medicine no início deste ano mostra que, após três semanas de redução no uso de celulares, os sintomas de depressão diminuíram em 27%.

A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) também alerta que a saúde mental dos jovens piorou significativamente nos últimos 15 anos, tendência agravada durante a pandemia. Apesar disso, a organização observa que ainda não se pode afirmar com certeza que o aumento do uso das mídias digitais é a causa direta desse declínio.

Um novo recorde, offline (e postado online)

Enquanto governos ainda avaliam medidas, os fundadores do Offline Club preferiram agir. Em abril, realizaram um evento em Londres que reuniu mais de mil pessoas, todas sem celular. A foto do encontro foi compartilhada, com orgulho, no Instagram. Um símbolo da contradição e da força desse novo movimento.

(Com informações de g1)
(Foto: Reprodução/Freepik/EyeEm)