Ferramenta transforma exercícios de reabilitação em fases de jogo com imagens e personagens, facilitando a comunicação de pessoas com distúrbios de linguagem
AVC – Após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) que comprometeu sua capacidade de leitura e escrita, o pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Anderson Alberto Ramos transformou sua própria experiência de reabilitação em tecnologia. Ele desenvolveu um jogo de celular voltado a pacientes com afasia — distúrbio de linguagem que afeta a comunicação, leitura e escrita.
Batizado de “Afasia por um Afásico”, o projeto nasceu de sua pesquisa de mestrado, defendida em julho de 2025 no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da universidade. Ramos, engenheiro eletricista com especialização em engenharia clínica, sofreu um AVC isquêmico em 2017 e desde então passou a conviver com limitações na fala e na escrita.
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O desafio pessoal se transformou em motivação para criar uma ferramenta capaz de auxiliar não só a si mesmo, mas também outros pacientes. A inspiração veio do contato direto com o Centro de Convivência de Afásicos (CCA) da Unicamp, espaço que reúne pacientes, familiares e pesquisadores em atividades de estímulo à linguagem.
Foi nesse ambiente que o pesquisador percebeu a importância de unir tecnologia, entretenimento e reabilitação. O jogo utiliza elementos gráficos que remetem a clássicos como Super Mario e Donkey Kong. O usuário pode escolher entre seis personagens e acessar diferentes fases que apresentam perguntas acompanhadas de cinco alternativas de resposta, todas ilustradas por imagens.
Gatilho para retomada
A proposta é facilitar o acesso às palavras escondidas na memória, estimulando tanto a fala quanto a compreensão por meio de associações visuais. Segundo a professora Maria Irma Hadler Coudry, orientadora da pesquisa, a ferramenta funciona como um gatilho para a retomada da linguagem.
“O mais interessante disso é que quando a gente oferece as várias possibilidades, a palavra que está escondida no cérebro, ela vem à boca. Então é nesse processo que eu consigo reconfigurar a linguagem na afasia. Eles melhoram muito. Cada um é de um jeito”, explica.
O pesquisador destaca que a ferramenta também abre novas possibilidades de interação com familiares e cuidadores. “Tem um que não consegue falar, não consegue falar nada, só consegue apontar, mas não dá pra saber o que ele está pensando. Com o jogo, essa pessoa ele pode olhar um desenho do jogo e mostrar para família, apontando assim”, afirma Ramos.
Além de Ramos e da professora Maria Irma, o trabalho contou ainda com a orientação do professor Antônio Augusto Fasolo Quevedo. A iniciativa reforça como a tecnologia pode ser uma aliada importante nos tratamentos de reabilitação, oferecendo alternativas criativas e acessíveis para pessoas que enfrentam os desafios da afasia.
(Com informações de G1)
(Foto: Reprodução/Freepik/ShalikaART)